Sobretaxa de até 50% imposta pelo governo Trump atinge mais de um terço das exportações brasileiras para o mercado norte-americano; impacto dependerá da realocação dos produtos
O tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que estabelece sobretaxas de 40% a 50% sobre produtos brasileiros, deve trazer efeitos diretos à economia nacional. Segundo o governo federal, 35,9% das exportações brasileiras para os EUA — equivalentes a 36% do total embarcado ao país — serão atingidas. A medida, em vigor desde o início de agosto, altera a dinâmica de diversos setores e pode provocar, no curto prazo, a redução de preços de alguns itens da cesta básica.
Especialistas ouvidos pelo UOL afirmam que a queda de preços no Brasil está condicionada ao destino das mercadorias que deixarem de ser exportadas. “Se o volume for redirecionado ao mercado interno, haverá pressão para baixo nos preços. Caso vá para outros mercados, como China ou Europa, o impacto doméstico será menor”, explica Simão Silber, economista da Fipe.
Café
Entre os produtos com maior probabilidade de redução de preço está o café, cuja exportação para os EUA pode cair pela metade. Com a safra em fase final e produção recorde, a sobra no mercado interno tende a baratear o produto. André Braz, do Ibre/FGV, observa que a menor demanda externa combinada ao aumento da oferta interna deve aliviar a inflação do grão.
Carne bovina
A carne bovina também deve sentir impacto. A maior disponibilidade para açougues e supermercados, devido à queda nas exportações para os EUA, pode gerar redução temporária no preço. Em julho, a arroba do boi caiu 7,3%, passando de R$ 317,40 para R$ 294,35, segundo o Cepea. No entanto, analistas projetam que o alívio não será duradouro: ciclos produtivos e restrições de oferta podem elevar o valor novamente em 2026.
Ovos
O setor de ovos, que enviou 61% das exportações para os EUA no primeiro semestre, também deverá registrar queda de preços. Nos últimos três meses, o produto acumulou redução de 11,5% no IPCA. Com o excedente no mercado interno, a expectativa é de manutenção dessa trajetória.
Frutas
Frutas como mangas, uvas e açaí, que têm nos EUA seu principal destino, deverão ter maior presença no mercado brasileiro. Segundo Silber, da Fipe, a dificuldade em encontrar novos compradores para o volume exportado pode reforçar a tendência de preços menores.
Vestuário
O setor têxtil e de calçados, incluído na taxa de 50%, deve interromper a sequência de altas registradas nos últimos quatro meses. Fernando Pimentel, da Abit, alerta que a indústria pode ter prejuízo de R$ 500 milhões em um ano, caso não consiga realocar a produção.
Apesar da possibilidade de alívio no bolso do consumidor, a medida preocupa a indústria brasileira. A redução nas exportações pode levar à diminuição da produção e ao fechamento de postos de trabalho. “Menos renda significa menos consumo no país”, conclui Silber.
Fonte : Uol
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